Itans Esú



1. Como Èsù tornou-se Òsijè-Ebó

Essa história revela o nascimento do 17o. Odù, como e de onde nasceu Òsetùwá, em decorrência, veremos a analise através de como Èsù se tornou Èsù Òsijè-Ebó, o transportador e encarregado de encaminhar as oferendas entre a terra e o òrun.
Quem deveria consultar o porta-voz-principal-do-culto-de-Ifá; a nuvem está pendurada por cima da terra...

Bábálàwó dos tempos imemoriais;
Os "siris" estão no rio; a marca do dedo requer Yèréòsùn (pó sagrado de Ifá).
Estes foram os Bábálàwó que jogaram Ifá para os quatrocentos Irúnmolè, senhores do lado direito, e jogaram Ifá para os duzentos malè, senhores do lado esquerdo.
E jogaram Ifá para Òsun, que tem uma coroa toda trabalhada de contas, no dia em que ele (Òsetùá) veio a ser o décimo sétimo dos Irùnmolè que vieram ao mundo, quando Òlódumàrè enviou os òrìsà, os dezesseis, ao mundo, para que viessem criar e estabelecer a terra.
E vieram verdadeiramente nessa época.
As coisas que Òlódumàrè lhes ensinou nos espaços do òrun constituíram nos pílares de fundação que sustentam a terra para a existência de todos os seres humanos e de todos os ebora.
Olódumàrè lhes ensinou que quando alcançassem a terra, deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a de Orò, o Igbó Orò.
Deveriam abrir uma clareira na floresta, consagrando-a a Eégún, o Igbó Eégún, que seria chamado Igbó Òpá.
Disse que deveriam abrir uma clareira na floresta consagrando-a a Odù Ifá, o Igbó Odù, onde iriam consultar o oráculo a respeito das pessoas.
Disse ele que deveriam abrir um caminho para os Òrìsà e chamar esse lugar de Igbó Òrìsà, floresta para adorar os òrìsà.
Olódumàrè lhes ensinou a maneira como deveriam resolver os problemas de fundação (assentamento) e adoração dos ojóbo (lugares de adoração) e como fariam as oferendas para que não houvesse morte prematura, nem esterilidade, nem infecundidade, que não houvesse perda, nem vida paupérrima, não houvesse nada de tudo isso sobre a terra.
Para que as doenças sem razão não lhes sobrevivessem, que nenhuma maldição caísse sobre eles, que a destruição e a desgraça não se abatessem sobre eles.
Olódumàrè ensinou aos dezasseis òrìsà o que eles deveriam realizar para evitar todas as coisas.
Ele os delegou e enviou à terra, a fim de executarem tudo isso.
Quando vieram ao òde àiyé, a terra, fundaram fielmente na floresta o lugar de adoração de Orò, o Igbá Orò. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Eégún. Fundaram na floresta o lugar de adoração de Ifá que chamamos Igbódù.
Também abriram um caminho para os òrìsà, que chamamos igbóòòsa.
Executaram todos esses programas visando a ordem.
Se alguém estava doente, ele ia consultar Ifá ao pé de Òrúnmìlá.
Se acontecia que Eégún poderia salvá-lo, dir-lho-iam.
Seria conduzido ao lugar de adoração na floresta de Eégún ao Igbó-Igbàlè, para que ele fizesse uma oferenda para Egúngún.
Talvez que um de seus ancestrais devesse ser invocado como Eégún, para que o adorasse, a fim de que esse Eégún o protegesse.
Se havia uma mulher estéril, Ifá seria consultado, a respeito dela, a fim de que Orúnmìlà pudesse indicar-lhe a decoação de Òsun, que ela deveria tomar.
Se havia alguém que estava levando uma vida de miséria, Orúnmìlà consultaria Ifá, a respeito dele.
Poderia ser que Orò estivesse associado à sua própria entidade criadora.
Orúnmìlà diria a essa pessoa que é a Orò que ela devia adorar.
E ela seria conduzida à floresta de Orò.
Eles seguiram essa prática durante muito tempo.
Enquanto realizavam as diversas oferendas, eles não chamavam Òsun.
Cada vez que iam à floresta de Eégún, ou à floresta de Orò, ou à floresta de Ifá, ou à floresta de Òòsà, a seu retorno, os animais que eles tinham abatido, fossem cabras, fossem carneiros, fossem ovelhas, fossem aves, entregavam-nos a Òsun para que ela os cozinhasse.
Preveniram-na que quando ela acabasse de preparar os alimentos, não devia comer nenhum pouco, porque deviam ser levados aos Malè, lá onde as oferendas são feitas.
Òsun começou a usar o poder das mães ancestrais - àse Iyá-mi - e a estender sobre tudo o que ela fazia esse poder de Iyá-mi-Àjé, que tornava tudo inútil.
Se se predissesse a alguém que ele ou ela não fosse morrer, essa pessoa não deixava de morrer.
Se fosse proclamado que uma pessoa não sobreviveria, a pessoa sobreviveria.
Se se previsse que uma pessoa daria à luz um filho, a pessoa tornava-se estéril.
Um doente a quem se dissesse que ele ficaria curado não seria jamais aliviado de sua doença.
Essas coisas ultrapassavam seu entendimento, porque o poder de Olódumàre jamais tinha falhado.
Tudo que Olódumàre lhes havia ensinado eles o aplicavam, mas nada dava resultado.
Que era preciso fazer?
Quando se congregaram numa reunião, Orúnmìlà sugeriu que, já que eles eram incapazes de compreender o que se estava passando por seus próprios conhecimentos, não havia outra solução senão consultar Ifá novamente.
Em consequência, Orúnmìlà trouxe seu instrumento adivinatório, depois consultou Ifá.
Contemplou longamente a figura do Odù que apareceu e chamou esse Odù pelo nome de òsetùá.
Ele olhou em todos os sentidos.
A partir do resultado definitivo de sua leitura, Orúnmìlà transmitiu a resposta a todos os outros Odù-àgbà.
Estavam todos reunidos e concordaram que não havia outra solução para todos eles, os òrìsàs-irúnmàlè, senão encontrar um homem sábio e instruído que podesse ser enviado a Olódumàrè, para que mandasse a solução do problema e o tipo de trabalho que devia ser feito para o restabelecimento da ordem, a fim de que as coisas voltassem a normalizar-se, e nada mais interferisse em seus trabalhos.
Ele, Orúnmìlà, deveria ir até a Olódumàrè.
Orúnmìlà ergueu-se.
Serviu-se de seus conhecimentos para utilizar a pimenta, serviu-se de sua sabedoria para tomar nozes de obi, despregou seu òdùn (tecido de ráfia) e o prendeu no seu ombro, puxou seu cajado do solo, um forte redemoinho o levou, e ele partiu até aos vastos espaços do outro mundo para encontrar Olódumàrè.
Foi lá que Orúnmìlà reencontrou Èsù Òdàrà.
Èsù já estava com Olódumàrè.
Èsù fazia sua narração a Olódùmarè.
Explicava que aquilo que estava estragando o trabalho deles na terra era o fato de eles não terem convidado a pessoa que constitui a décima sétima entre eles.
Por essa razão, ela estragava tudo, Olódumàrè compreendeu.
Assim que Orúnmìlà chegou, apresentou seus agravos a Olódumàrè.
Então Olódumàrè lhe disse que deveria ir e chamar a décima sétima pessoa entre eles e levá-la a participar de todos os sacrifícios a serem oferecidos.
Porque, além disso, não havia nenhum outro conhecimento que Ele lhes pudesse ensinar senão as coisas que Ele já lhes havia dito.
Quando Orúnmìlà voltou à terra, reuniu todos os òrìsà e lhes transmitiu o resultado de sua viagem.
Chamaram Òsun e lhe disseram que ela deveria segui-los por todos os lugares onde deveriam oferecer sacrifícios.
Mesmo na floresta de Eégún.
Òsun recusou-se: ela jamais iria com eles.
Começaram a suplicar a Òsun e ficaram prostrados um longo tempo.
Todos começaram a homenageá-la e a reverenciá-la.
Òsun os maltratava e abusava deles.
Ela maltratava Òrìsànlá, maltratava Ògún, maltratava Orúnmìlà, maltratava Òsányín, maltratava Orànje, ela continuava a maltratar todo mundo.
Era o sétimo dia, quando Òsun se apaziguou.
Então eles disseram que viesse.
Ela replicou que jamais iria, disse, entretanto, que era possível fazer uma outra coisa já que todos estavam fartos dessa história.
Disse que se tratava da criança que levava no seu ventre.
Somente se eles soubessem como fazer para que ela desse à luz uma criança do sexo masculino, isso significaria que ela permitiria então que ele a substituísse e fosse com eles.
Se ela desse à luz uma criança do sexo feminino, podiam estar certos que esta questão não se apagaria em sua mente.
Ficariam aí, pedaços, pedaços, pedaços.
E eles deveriam saber com certeza que esta terra pereceria; deveriam criar uma nova.
Mas se ela desse à luz um filho homem, isso queria dizer que, evidentemente, o próprio Olórun os tinha ajudado.
Assim apelou-se para Òrìsàlá e para todos os outros òrìsà para saber o que deveriam fazer para que a criança fosse do sexo masculino.
Disseram que não havia outra solução a não ser que todos utilizassem o poder - àse - que Olódumàrè tinha dado a cada um deles; cada dia repetidamente deveriam vir, para que a criança nascesse do sexo masculino.
Todos os dias iam colocar seu àse - seu poder - sobre a cabeça de Òsun, dizendo o que segue:

"Você Òsun!
Homem ele deverá nascer, a criança que você traz em si!"
Todos respondiam "assim seja", dizendo "tó!" acima de sua cabeça...
Assim fizeram todos os dias, até que chegou o dia do parto de Òsun.
Ela lavou a criança.
Disseram que ela deveria permitir-lhes vê-la.
Ela respondeu "não antes de nove dias".
Quando chegou o nono dia, ela os convocou a todos.
Esse era o dia da cerimónia do nome, da qual se originaram todas as cerimónias de dar o nome.
Mostrou-lhes a criança, e a pôs nas mãos de Òrìsàálá.
Quando Òrìsàálá olhou atentamente a criança e viu que era um menino, gritou:
"Músò"...! (hurra...!).
Todos os outros repetiram "Músò".....!
Cada um carregou a criança, depois o abençoaram.
Disseram "somos gratos por esta criança ser um menino".
Disseram: "Que tipo de nome lhe daremos?".
Òrìsàálá disse: "Vocês todos sabem muito bem que cada dia abençoamos sua mãe com nosso poder para que ela pudesse dar à luz uma criança do sexo masculino, e essa criança deveria justamente chamar-se À-S-E-T-Ù-W-Á (o poder trouxe ela a nós)"
Disseram: "Acaso você não sabe que foi o poder do àse, que colocamos nela, que forçou essa criança a vir ao mundo, mesmo se antes ela não queria vir à terra sob a forma de uma criança do sexo masculino?
Foi nosso poder que a trouxe à terra".
Eis por que chamaram a criança de Àsetùwà.
Quando chegou o tempo, Orúnmìlà consultou o oráculo Ifá acerca da criança, porque todos devem conhecer sua origem e destino, colheram o instrumento de Ifá para consultá-lo.
Eles o manipularam e o adoraram.
Era chegado o momento de consultar Ifá a respeito dele, para saberem qual era seu Odù, para que o pudessem iniciar no culto de Ifá.
Levaram-no à floresta de Ifá, que chamamos Igbódù, onde Ifá revelaria que Òsè e Òtùá eram seu Odù.
Este foi o resultado que ele deu a respeito da criança.
Orúnmìlà disse: "a criança que Òsè e Òtùá fizeram nascer, que antes chamamos de Àsetùwá", disse, "chamemo-la de Òsètùá".
Foi por isso que chamaram a criança com o nome do Odù de Ifá que lhe deu nascimento, Òsètùá.
Àsetùá era o nome que ele trazia anteriormente.
Assim, a criança participou do grupo dos outros Odù, ao ponto de ir com eles a todos os lugares onde se faziam oferendas na terra.
Foi assim que todas as coisas que Olódùmàrè lhes tinha ensinado deixaram de ser corrompidas.
Cada vez que proclamavam que as pessoas não morreriam, elas realmente sobreviviam e não morriam.
Se diziam que as pessoas seriam ricas, elas tornavam-se realmente ricas.
Se diziam que a mulher estéril conceberia, ela realmente dava à luz.
A própria Òsun deu a essa criança um nome nesse dia.
Disse ela: "Osó a gerou (significando que a criança era filho do poder mágico), porque ela mesma era uma ajé e a criança que ela gerou é um filho homem.
Disse ela: "Akin Osò", (Akin Osò: poderoso mago; homem bravo dotado de um grande poder sobrenatural) eis o que a criança será!
É por isso que eles chamaram Òsetùá de Akin Osò, entre todos os Odù Ifá e entre os dezasseis òrìsà mais anciãos.
Depois eles disseram que em qualquer lugar onde os maiores se reunissem, seria compulsório que a criança fosse um deles.
Se não pudessem encontrar o décimo sétimo membro, não poderiam chegar a nenhuma decisão, e se dessem um conselho, não poderiam ratifica-lo.
Finalmente, aconteceu!
Sobreveio uma seca na terra.
Tudo estava seco!
Não havia nem orvalho!
Fazia três anos que tinha chovido pela última vez.
O mundo entrou em decadência.
Foi então que eles voltaram a consultar Ifá, Ifà àjàlàiyé. (aquele que administra a terra) Quando Orúnmìlà consultou Ifá àjàlàiyé, disse que deveriam fazer uma oferenda, um sacrifício, e preparar a oferenda de maneira que chegasse a Olódùmàrè, para que Olódùmàrè pudesse ter piedade da terra, e assim não virasse as costas à terra e se ocupasse dela para eles.
Porque Olódùmàrè não se ocupava mais da terra.
Se isso continuasse, a destruição era inevitável, era iminente.
Somente se pudessem fazer a oferenda, Olódumàrè teria sempre misericórdia deles.
Ele se lembraria deles e zelaria pelo mundo.
Foi assim que prepararam a oferenda.
Eles colocaram, uma cabra, uma ovelha, um cachorro e uma galinha, um pombo, uma preá, um peixe, um ser humano e um touro selvagem, um pássaro da floresta, um pássaro da savana, um animal doméstico.
Todas essas oferendas, e ainda dezesseis pequenas quartinhas cheias de azeite de dendê que eles juntaram nesse dia.
E ovos de galinha, e dezesseis pedaços de pano branco puro.
Prepararam as oferendas apropriadas usando folhas de Ifá, que toda oferenda deve conter.
Fizeram um grande carrego com todas as coisas.
Disseram então, que o próprio Èjì-Ogbè deveria levar essa oferenda a Olódumàrè. Ele levou a oferenda até as portas do òrun, mas elas não lhe foram abertas.
Èjì-Ogbè voltou à terra.
No segundo dia Òyèkú-Méji a carregou, ele voltou.
Não lhe abriram as portas.
Ìwòrí-Méji levou a oferenda, assim fizeram Òdi-Méji; Ìrosùn-Méji; Òwórin-Méji; Òbàrà-Méji; Òkànràn-Méji; Ogúndá-Méji; Òsá-Méji; Ìká-Méji; Òtúrúpòn-Méji; Òtúá-Méji; Ìrètè-Méji; Òsè-Méji; Òfún-Méji.
Mas não puderam passar, Olórun não abria as portas.
Assim decidiram que o décimo sétimo entre eles deveria ir e experimentar o seu poder, antes que tivessem que reconhecer que não tinham mais nenhum poder.
Foi assim que Òsetùá foi visitar certos Babaláwo, para que eles consultassem o oráculo para ele.
Esses Babaláwo traziam os nomes de Vendedor-de-azeite-de-dendê e Comprador-de-azeite-de-dendê.
Ambos esfregaram seus dedos com pedaços de cabaça.
Jogaram Ifá para Akin Osò, o filho de Enìnàre (aquela que foi colocada na senda do bem) no dia em que ele conseguiu levar a oferenda ao poderoso òrun.
Disseram que ele deveria fazer uma oferenda; disseram, quando ele acabasse de fazer a oferenda, disseram, no lugar a respeito do qual ele estava consultando Ifá, disseram, ali, ele seria coberto de honras, disseram, sucederá que a posição que ele ali alcançasse, disseram, essa posição seria para sempre e não desapareceria jamais.
Disseram, as honras que ele ali receberia, disseram, o respeito, seriam intermináveis.
Disseram: "Você verá uma anciã no seu caminho", disseram, "faça-lhe o bem".
Assim, quando Òsetùá acabou de preparar a oferenda, seis pombos, seis galinhas com seis centavos e quando estava em seu caminho, ele encontrou uma anciã.
Ele carregava a oferenda no caminho que levaria a Èsù, quando encontrou essa anciã na sua rota. Essa anciã era da época em que a existência se originou.
Disse: "Akin Osò! à casa de quem vai você hoje?
"Disse: "eu ouvi rumores a respeito de todos vocês na casa de Olófin, que os dezesseis Odù mais idosos levaram uma oferenda ao poderoso òrun sem sucesso".

Disse: "assim seja".
Disse: "é sua vez hoje?''
Disse: "é minha vez".
Disse: "tomou alimentos hoje?"
Respondeu ele: "eu tomei alimentos".
Disse ela "quando você chegar a seu sitio, diga-lhes que você não irá hoje".
Disse ela: "Esses seis centavos que você me deu", Disse: "há três dias não tinha dinheiro para comprar comida"
Disse: "diga-lhes que você não irá hoje".
Disse: "quando chegar amanhã, você não deve comer, você não deve beber antes de chegar ali".
Disse: "você deve levar a oferenda".
Disse: "todos esses que ali foram, comeram da comida da terra, essa é a razão por que Olórun não lhes abriu a porta!"
Quando Òsetùá voltou a casa de Oba Àjàlàiyè, todos os Odù Ifá estavam reunidos lá.
Disseram: "você deve estar pronto agora, é sua vez hoje de levar a oferenda ao òrun, talvez a porta seja aberta para você!
"Disse ele que estaria pronto no dia seguinte, porque não tinha sido avisado na véspera.
Quando chegou o dia seguinte, Òsetùá, foi encontrar Èsù e lhe perguntou o que deveria fazer.
Èsù respondeu: "Como!
Jamais pensei que você viria me avisar antes de partir".
Disse ele: "isso vai acabar hoje, eles lhe abrirão a porta!
" Perguntou ele: "Tomou algum alimento?
"Òsetùá lhe respondeu que uma anciã lhe tinha dito na véspera que ele não devia comer absolutamente nada.
Então Òsetùá e Èsù puseram-se a caminho.
Partiram em direcção aos portões do òrun.
Quando chegaram lá, as portas já se encontravam abertas.
Quando levaram a oferenda a Olódùmarè e Ele examinou.
Olòdumarè disse: "Haaa! Você viu qual foi o último dia que choveu na terra?!
Eu me pergunto se o mundo não foi completamente destruído. Que pode ser encontrado lá?
"Òsetùá não podia abrir a boca para dizer qualquer coisa.
Olódùmarè lhe deu alguns "feixes" de chuva.
Reuniu, como outrora, as coisas de valor do òrun, todas as coisas necessárias para a sobrevivência do mundo, e deu-lhas.
Disse que ele, Òsetùá, deveria retornar.
Quando deixaram a morada de Olódumarè, eis que Òsetùá perdeu um dos "feixes" de chuva.
Então a chuva começou a cair sobre a terra.
Choveu, choveu, choveu, choveu....
Quando Òsetùá voltou ao mundo, em primeiro lugar foi ver Quiabo.
Quiabo tinha produzido vinte sementes.
Quiabo que não tinha nem duas folhas, um outro não tinha mesmo nenhuma folha em seus ramos.
Voltou-se em direção à casa do Quiabo escarlate, Ilá Ìròkò tinha produzido trinta sementes.
Quando chegou a casa de Yáyáá, esse havia produzido cinquenta sementes.
Foi então até à casa da palmeira de folhas exuberantes, que se encontrava na margem do rio Awónrin Mogún.
A palmeira tinha dado nascimento a dezesseis rebentos.
Depois que a palmeira deu nascimento a dezasseis rebentos ele voltou à casa de Oba Àjàlàiyé.
Àse se expandia e se estendia sobre a terra.
Sémen convertia-se em filhos, homens em seu leito de sofrimento se levantavam, e todo o mundo tornou-se aprazível, tornou-se poderoso.
As novas colheitas eram trazidas dos plantios.
O inhame brotava, o milho amadurecia, a chuva continuava a cair, todos os rios transbordavam, todo mundo era feliz.
Quando Òsetùá chegou, carregaram-no para montar num cavalo (signo de realeza: só os mais poderosos podem-se permitir a criar ou montar cavalos em País Yorùbá).
Estavam mesmo a ponto de levantar o cavalo do chão para mostrar até que ponto as pessoas estavam ricas e felizes.
Estavam de tal forma contentes com ele, que o cobriram de presentes, os que estavam em sua direita os que estavam em sua esquerda.
Começaram a saudar Òsetùá: "Você é o único que conseguiu levar a oferenda ao òrun, a oferenda que você levou ao outro mundo era poderosa!
Disseram, "sem hesitação, rápido, aceite meu dinheiro e ajude-me a transportar minha oferenda ao òrun! Òsetùá! Aceite rápido! Òsetùá aceite minha oferenda!" Todos os presentes que Òsetùá recebeu, os deu todos a Èsù Òdàrà.
Quando os deu a Èsù, Èsù disse: "Como!
"Há tanto tempo ele entregava os sacrifícios, e não houve ninguém para retribuir-lhe a gentileza.
"Você Òsetùá! Todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a terra, se não os entregarem primeiro a você, para que você possa trazer a mim, farei que as oferendas não sejam mais aceitáveis".
Eis a razão pela qual sempre que os Babaláwo fazem sacrifícios, qualquer que seja o Odù Ifá que apareça e qualquer que seja a questão, devem invocar Òsetùá para que envie as oferendas a Èsù.
Porque é só de sua mão que Èsù aceitará as oferendas para levá-las ao òrun. Porque quando Èsù mesmo recebia os sacrifícios das pessoas da terra e os entregava no lugar onde as oferendas são aceitas, eles não demonstravam nenhum reconhecimento pelo que ele fazia por todos até o dia em que Òsetùá teve de carregar o sacrifício e Èsù foi abrir o caminho apropriado para o òrun, para alcançar a morada de Olódumàrè.
Quando se abriram as portas para ele.
A qualidade de gentileza que Èsù recebeu de Òsetùá era realmente muito valiosa para ele (Èsù).
Então ele e Òsetùá decidiram combinar um acordo pelo qual todas as oferendas que deveriam ser feitas deveriam ser-lhe enviadas por intermédio de Òsetùá.
Foi assim que Òsetùá converteu-se no entregador de oferendas para Èsù.
Èsù Òdàrà, foi assim que ele se converteu em O portador de oferendas para Olódumàrè, Èsù Òsijé-Ebó, no poderoso òrun.

É assim como este Itan (verso) Ifá explica, a respeito de Èsù e Òsetùá.

2.
Porque Esu não deve viver na casa de Oxalá

Esu gostava muito de dançar e para ir a uma festa fazia qualquer coisa.

Um dia havia uma festa e ele não podia ir porque não tinha dinheiro.

Fez todos os esforços possíveis até que, como última alternativa, chegou a casa de Oxalá e prometeu limpar-lhe a casa todos os dias se ele o livrasse de um grande apuro que tinha.

Oxalá aceitou e pagou-lhe adiantado, pelo que Esu pode ir à festa nessa noite.

Esteve muito contente e divertiu-se muitíssimo, estando tão cansado no outro dia que lhe custou fazer o trabalho a Oxalá como tinham combinado.

A limpeza foi feita de má vontade, nesse e em todos os outros dias.

Enquanto isto sucedia, Oxalá ficou doente repentinamente, a tal ponto que teve que consultar Orunmilá. Nesta consulta saiu que na sua casa havia alguém que não era dali e que era necessário que se fosse embora.

Que apenas esse alguém saísse de sua casa, ele melhoraria de saúde, e também lhe foi dito que aquele que estava em sua casa se sentia preso e que essa era a razão da sua enfermidade.

Oxalá recordou-se do rapaz que tinha na sua casa para a limpeza, mas não o despediu de imediato, e, quando houve outra festa na povoação disse-lhe: "Toma este dinheiro e vai à festa.

Já não me deves nada, mas não me abandones e visita-me quando quiseres". Esu foi-se embora muito contente e desde esse momento Oxalá começou a melhorar e curou-se da doença que tinha.

3.
Exú ganha de Oxalá o poder sobre as encruzilhadas

Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio, não tinha profissão, nem artes, nem missão.

Exú vagabundeava pelo mundo sem paradeiro, então um dia, ele passou a ir à casa de Oxalá. E ia todos os dias.

Lá, Exú se distraía, vendo o velho fabricando seres humanos.

Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá, mas ali ficavam pouco, quatro dias, oito dias e nada aprendiam.

Traziam oferendas, viam o velho Orixá, apreciavam sua obra e partiam.

Exú ficou na casa de Oxalá por dezesseis anos, prestando muita atenção na modelagem, e aprendeu como Oxalá fabricava as mãos, os pés, boca, olhos, o pênis dos homens e a vagina das mulheres.

Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho Orixá.

Exú não perguntava.

Exú observava.

Exú prestava atenção.

Exú aprendeu tudo.

Um dia Oxalá disse a Exú para ir postar-se na encruzilhada por onde passavam os que vinham à sua casa.

Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse uma oferenda a Oxalá.

Cada vez mais haviam humanos para Oxalá fazer, e não queria perder tempo recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.

Oxalá não tinha tempo nem para visitas.

Exú tinha aprendido tudo e agora já poderia ajudar Oxalá, coletando os ebós, recebendo as oferendas e entregava tudo para Oxalá.

Exú fazia bem o seu trabalho e Oxalá decidiu recompensá-lo.

Assim, quem viesse à casa de Oxalá teria que pagar alguma coisa a Exú.

Exú mantinha-se sempre em posto guardando a casa de Oxalá, armado de um ogó, poderoso porrete, afastava os indesejáveis e punia quem tentasse burlar sua vigilância.

Exú trabalhava demais e fez ali a sua casa, ali na encruzilhada.

Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.

Exú ficou rico e poderoso, e a partir de então, ninguém poderia passar pela encruzilhada sem pagar alguma coisa a Exu.

4.
Exú e o poder do mal entendido

Exú, sabedor de que uma rainha fora abandonada pelo seu rei (dormindo assim em aposentos separados). Procurou-a, entregou a ela uma faca e disse que se ela desejasse ter ele de volta deveria cortar alguns fios da sua barba ao anoitecer quando o rei dormisse.

Em seguida, foi a casa do príncipe herdeiro do trono situada nos arredores do palácio e disse ao príncipe que o rei desejava vê-lo ao anoitecer com seu exército.

Em seguida, foi até o rei e disse: a rainha magoada vai tentar matá-lo a noite finja que está dormindo para não morrer. E a noite veio.

O rei deitou-se fingiu dormir e viu depois, a rainha aproximar uma faca de sua garganta. Ela queria apenas cortar um fio da barba do rei, mas ele julgou que seria assassinado. O rei desarmou-a e ambos lutaram, fazendo grande algazarra.

O príncipe que chegava com seus guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu para lá. O príncipe entrou nos aposentos e viu o rei com a faca na mão e pensou que ele queria matar a rainha e empunhou sua espada.

O rei vendo o príncipe entrar no palácio armado a noite pensou que o príncipe queria matá-lo e gritou por seus guardas pessoais.

Houve uma grande luta seguida de um massacre generalizado.

5.
O itan do boné de Esú

Certa vez, dois amigos de infância, que jamais discutiam, esqueceram-se, numa segunda-feira, de fazer-Ihe as oferendas devidas para Èsù.

Foram para o campo trabalhar, cada um na sua roça.

As terras eram vizinhas, separadas apenas por um estreito canteiro.

Èsù, zangado pela negligência dos dois amigos, decidiu preparar-Ihes um golpe à sua maneira.

Ele colocou sobre a cabeça um boné pontudo que erabranco do lado direito e vermelho do lado esquerdo.

Depois, seguiu o canteiro, chegando à altura dos dois trabalhadores amigos e, muito educadamente, cumprimentou-os:

-"Bom trabalho, meus amigos!"

Estes, gentilmente, responderam:

-"Bom passeio, nobre estrangeiro!"

Assim que Èsù afastou-se, o homem que trabalhava no campo à direita, falou para o seu companheiro:

-"Quem pode ser este personagem de boné branco?"

-"Seu chapéu era vermelho", respondeu o homem do campo a esquerda.

-"Não, ele era branco, de um branco de alabastro, o mais belo branco que existe!"

-"Ele era vermelho, um vermelho escarlate, de fulgor insustentável!"

-"Ele era branco, tratar-me de mentiroso?"

-"Ele era vermelho, ou pensas que sou cego?"

Cada um dos amigos tinha razão e ambos estavam furiosos da desconfiança do outro.

Irritados, eles agarraram-se e começaram a bater-se até matarem-se a golpes de enxada.

Èsù estava vingado!

Isto não teria acontecido se as oferendas a Èsù não tivessem sido negligenciadas.

Pois Èsù pode ser o mais benevolente dos òrìsàs se é tratado com consideração e generosidade.

6.
Exu vinga-se e exige o privilégio das primeiras homenagens

Exu era o irmão mais novo de Ogum, Odé e outros orixás.Era tão turbulento criava tanta confusão que um dia o rei já não suportando sua malfazeja índole, resolveu castigá-lo com severidade. Para impedir que fosse aprisionado, os irmãos o aconselharam a deixar o país.

Mas enquanto Exu estava no exílio, seus irmãos continuavam a receber festa e louvações. Exu não era mais lembrado, ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Então, usando mil disfarces, Exu visitava seu país, rondando, nos dias de festa, as portas dos velhos santuários.

Mas ninguém o reconhecia assim disfarçado e nenhum alimento lhe era ofertado. Vingou-se ele, semeando sobre o reino toda a sorte de desassossego, desgraça e confusão.

Assim o rei decidiu proibir todas as atividades religiosas, até que descobrissem as causas desses males. Então os babalorixás reuniram-se em comitiva e foram consultar um babalaô que residia nas portas da cidade. O babalaô jogou os búzios e Exu foi quem falou no jogo.

Disse nos odus que tinha sido esquecido por todos. Que exigia receber sacrifícios antes do demais e que fossem para ele os primeiros cânticos cerimoniais. O babalaô jogou os búzios e disse que oferecessem um bode e sete galos a Exu.

Os babalorixás caçoaram do babalaô, não deram a menor importância às suas recomendações e ficaram por ali sentados, cantando e rindo dele. Quando quiseram levantar-se para ir embora, estavam grudados nas cadeiras. Sim era mais uma das ofensas de Exu!

O babalaô então pôs a mão no ombro de cada um e todos puderam levantar-se livremente. Disse a eles que fizessem como fazia ele próprio: que o primeiro sacrifício fosse para acalmar Exu.

Assim convencidos, foi o que fizeram os pais e mães-de-santo, naquele dia e sempre desde então.

7.
Exu atrapalha-se com as palavras

No começo dos tempos estava tudo em formação, lentamente os modos de vida na Terra forma sendo organizados, mas havia muito a ser feito.

Toda vez que Orunmilá vinha do Orum para ver as coisas do Aiê, era interrogado pelos orixás, humanos e animais, ainda não fora determinado qual o lugar para cada criatura e Orunmilá ocupou-se dessa tarefa.

Exu propôs que todos os problemas fossem resolvidos ordenadamente, ele sugeriu a Orunmilá que a todo orixá, humano e criatura da floresta fosse apresentada uma questão simples para a qual eles deveriam dar resposta direta, anatureza da resposta individual de cada um determinaria seu destino e seu modo de viver, Orunmilá aceitou a sugestão de Exu.

E assim, de acordo com as respostas que as criaturas davam, elas recebiam um modo de vida de Orunmilá, uma missão, enquanto isso acontecia, Exu, travesso que era, pensava em como poderia confundir Orunmilá.

Orunmilá perguntou a um homem: "Escolhes viver dentro ou fora?". "Dentro", o homem respondeu, e Orunmilá decretou que doravante todos os humanos viveriam em casas.

De repente, Orunmilá se dirigiu a Exu: "E tu, Exu? Dentro ou fora?". Exu levou um susto ao ser chamado repentinamente, ocupado que estava em pensar sobre como passar a perna em Orunmilá, e rápido respondeu: "Ora! Fora, é claro", mas logo se corrigiu: "Não, pelo contrário, dentro", Orunmilá entendeu que Exu estava querendo criar confusão, falou pois que agiria conforme a primeira resposta de Exu, disse: "Doravante vais viver fora e não dentro de casa".

E assim tem sido desde então, Exu vive a céu aberto, na passagem, ou na trilha, ou nos campos, diferentemente das imagens dos outros orixás, que são mantidas dentro das casas e dos templos, toda vez que os humanos fazem uma imagem de Exu ela é mantida fora.

8.
Exu leva aos homens o oráculo de Ifá

Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.

Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens ?

Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.

Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens.
Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás.
Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer.
Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não tem medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".

Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã. Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses tem fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".

Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles.
Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira.
Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira.
Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus.
Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos.
Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens.
Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente.
Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus.
Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".

Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens.
Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir.

Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro.
Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam.
Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses.
Os Orixás estavam satisfeitos e felizes.
Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.

9.
Exu e o Ogan

Exú sempre foi o mais alegre e comunicativo de todos os orixás.

Olorun, quando o criou, deu-lhe, entre outras funções, a de comunicador e elemento de ligação entre tudo o que existe.

Por isso, nas festas que se realizavam no orun (céu), ele tocava tambores e cantava, para trazer alegria e animação a todos.

Sempre foi assim, até que um dia os orixás acharam que o som dos tambores e dos cânticos estavam muito altos, e que não ficava bem tanta agitação.

Então, eles pediram a Exú, que parasse com aquela actividade barulhenta, para que a paz voltasse a reinar.

Assim foi feito, e Exú nunca mais tocou seus tambores, respeitando a vontade de todos.

Um belo dia, numa dessas festas, os orixás começaram a sentir falta da alegria que a música trazia.

As cerimônias ficavam muito mais bonitas ao som dos tambores.

Novamente, eles se reuniram e resolveram pedir a Exú que voltasse a animar as festas, pois elas estavam muito sem vida.

Exú negou-se a fazê-lo, pois havia ficado muito ofendido quando sua animação fora censurada, mas prometeu que daria essa função para a primeira pessoa que encontrasse.

Logo apareceu um homem, de nome Ogan.

Exú confiou-lhe a missão de tocar tambores e entoar cânticos para animar todas as festividades dos orixás.

E, daquele dia em diante, os homens que exercessem esse cargo seriam respeitados como verdadeiros pais e denominados Ogans.

10.
ORUNMILÁ E EXU

Orunmilá e Exú eram amigos, mas disputavam entre si o poder.

Houve uma guerra na cidade de Ajala Eremi.

Tendo isso chegado ao conhecimento de Exú, por seus seguidores que invocavam-no e pediam a sua ajuda, ele correu a Orunmilá para contar a novidade.

Orunmilá ficou curioso de saber como Exú já sabia da guerra, uma vez que a cidade era longe e parcos os recursos.
Exú, muito vaidoso, disse saber tudo, em virtude de seus poderes, e completou - "Vamos lá salvá-los".

Viajaram juntos, e chegando à Ajala Eremi, ajudaram o povo a vencer a guerra, e foram reverenciados e louvados.
Na volta, Exú disse a Orunmilá - "Você vai ver, a minha magia é maior que a sua".

Orunmilá riu, disse que seus poderes eram bem maiores, e disse também:

"Ki okunrin ma to ato rin
Ki obinrin ma to ato rin
Ki awo eni ti aso re yio rin".
"O homem fica em pé e urina andando
A mulher fica em pé e urina andando
Vamos ver a roupa de quem fica molhada primeiro".

Com essas palavras ele desafiou Exú.

Caminharam muito até que anoiteceu, e pararam em Ileto (pequena cidade baale - aldeia pobre).

Orunmilá pediu aos mais velhos pousada por uma noite para ambos.

O Rei permitiu que dormissem e determinou em que casa ficariam.

No meio da noite, estando Orunmilá dormindo, Exú acordou bruscamente.

Exu saiu para o pátio, foi ao local onde as galinhas dormiam, agarrou o galo pelos pés, torceu-lhe o pescoço, arrancou-lhe a cabeça e enfiou no bolso.

Fez uma ótima e solitária refeição com a carne e alguns inhames, pimentas, tomates e cebolas que achou nos campos, temperou tudo com óleo dendê, bebeu vinho de palma e completou com litros e litros de água fresca.

Voltando à casa, chamou Orunmilá, e disse -" Vamos embora depressa".

Orunmilá acordou estremunhado, e ainda tonto, achou que era de manhã, e seguiu com Exú pela estrada como bons amigos.

Em Ileto, assim que amanheceu, descobriram a morte do galo, a fuga dos hóspedes e o povo, revoltado, decidiu persegui-los.

Juntaram os Ode (soldados).

Correram atrás de Exú e Orunmilá e alguém lembrou que Exú usava uma roupa de búzios (símbolo de magia).

Exú sabia que o povo de Ileto e os soldados vinham em sua perseguição.Olhava para trás e ria.

Falou a Orunmilá -"O povo vem aí, traz lanças, facas e soldados. Mostre a força de sua magia agora".

Orunmilá, sempre muito calmo, disse a Exú -"A mim não pegam. Eu adivinho que você matou o galo e comeu-o, porque o sangue pinga de seu bolso".

E disse "A ki gbo iku a fibi oba sa".
("Não se pode ter má notícia da terra. Ela não morre".)

Depois de proferir estas palavras mágicas, Orunmilá disse a Exú: -"Agora você dá a solução".

Exú sugeriu que subissem em uma árvore sagrada (ikin), de cuja madeira são feitos instrumentos para o culto, e esperassem para ver os Ode passarem.

Os soldados e o povo viram o sangue, e revistando a árvore acharam Exú lá em cima, junto com Orunmilá.

Alguns ficaram de guarda à árvore, enquanto outros foram buscar machados e facões para derrubá-la.

Quando começaram a cortar a árvore, Exú riu e disse a Orunmilá: - "É agora! Vamos cair os dois, faça a sua magia, eu faço a minha e veremos qual o poder maior".

A árvore caiu.

Orunmilá se enterrou no chão e virou água.

Exú bateu no chão e virou pedra.

O povo e os Ode procuraram e não acharam ninguém. O lugar virou uma grande confusão, com todos gritando e se acusando mutuamente.

Os que estavam sedentos, viram a água que era Orunmilá, beberam dela e se acalmaram.

Os que estavam cansados sentaram na pedra que era Exú e ficaram agitados.
E daí para a frente, dois tipos de pessoas se criaram no mundo, os calmos e os agitados.

E todos que jogam Ifá (antigo sistema yorubá de adivinhação), têm que cultuar Exú e Orunmilá.

11.
enda de Eshu Jelu (Ijelu ou Ajelu)

Mandaram Eshú fazer um ebó, com o objetivo de obter fortuna rapidamente e de forma imprevista.

Depois de oferecer o sacrifício, Exú empreendeu viagem rumo a cidade de Ijelu.

Lá chegando, foi hospedar-se na casa de um morador qualquer da cidade, contrariando os costumes da época, que determinavam que qualquer estrangeiro recém chegado receberia acolhida no palácio real.

Alta madrugada, enquanto todos dormiam, Exú levantou-se sorrateiramente e ateou fogo as palhas que serviam de telhado à construção em que estava abrigado, depois do que, começou a gritar por socorro, produzindo enorme alarido, o que acordou todos os moradores da localidade.

Eshú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa.

Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por enumeras pessoas do local.

Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria indenizar a vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro.

Ao tomar conhecimento do grande valor da indemnização e ciente de não possuir meios para saldá-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Eshú, com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio.

Diante da proposta, Eshú aceitou imediatamente, passando a ser deste então o rei de Ijelu.

12.
Oxum e o oráculo

Conta-nos uma lenda, que Òsùn queria muito aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, para tanto, foi procurar Èsù, para aprender os princípios de tal dom.

Èsù, muito matreiro, disse a Òsùn que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Òsùn sobre os domínios de Èsù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo.

Em troca, ele a ensinaria.
E, assim foi feito.

Durante sete anos, Òsùn foi aprendendo a arte da adivinhação que Èsù lhe ensinava e consequentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èsù.

Findando os sete anos, Òsùn e Èsù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Òsùn resolveu ficar em companhia desse Òrìsà.

Em um belo dia, Sàngó que passava pelas propriedades de Èsù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos na margem de um rio e, de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Òsùn.

Foi-se a tal ponto que Sàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia no seu lindo castelo na cidade de Oyó.

Òsùn rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èsù.

Sàngó então, irado por ter sido contrariado, sequestrou Òsùn e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo.

Èsù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo, sua doce pupila de anos de convivência.

Chegando nas terras de Sàngó, Èsù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Oyó, da mais alta torre.

Lá estava Òsùn, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei.

Èsù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Òrùnmílá, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Òsùn fugir dos domínios de Sàngó.

Èsù, através da magia, pôde fazer chegar às mãos de sua companheira a tal poção.

Òsùn tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se numa linda pomba dourada, que voou e pôde então retornar em companhia de Èsù para a sua morada.

13.

Esú torna-se o amigo predilecto de Orunmila

Como se explica a grande amizade entre Orunmila e Exu, visto que eles são opostos em grandes aspectos ?
Orunmila, filho mais velho de Olorun, foi quem trouxe aos humanos o conhecimento do destino pelos búzios. Exu, pelo contrário, sempre se esforçou para criar mal-entendidos e rupturas, tanto aos humanos como aos Orixás. Orunmila era calmo e Exu, quente como o fogo.

Mediante o uso de conchas adivinhas, Orunmila revelava aos homens as intenções do supremo deus Olorun e os significados do destino. Orunmila aplainava os caminhos para os humanos, enquanto Exu os emboscava na estrada e fazia incertas todas as coisas. O carácter de Orunmila era o destino, o de Exu, era o acidente. Mesmo assim ficaram amigos íntimos.

Uma vez, Orunmila viajou com alguns acompanhantes. Os homens de seu séqüito não levavam nada, mas Orunmila portava uma sacola na qual guardava o tabuleiro e os Obis que usava para ler o futuro.

Mas na comitiva de Orunmila muitos tinham inveja dele e desejavam apoderar-se de sua sacola de adivinhação. Um deles mostrando-se muito gentil, ofereceu-se para carregar a sacola de Orunmila. Um outro também se dispôs à mesma tarefa e eles discutiram sobre quem deveria carregar a tal sacola.

Até que Orunmila encerrou o assunto dizendo: "Eu não estou cansado. Eu mesmo carrego a sacola".

Quando orunmila chegou em casa, reflectiu sobre o incidente e quis saber quem realmente agira como um amigo de fato. Pensou então num plano para descobrir os falsos amigos. Enviou mensagens com a notícia de que havia morrido e escondeu-se atrás da casa, onde não podia ser visto. E lá Orunmila esperou.

Depois de um tempo, um de seus acompanhantes veio expressar seu pesar. O homem lamentou o acontecido, dizendo ter sido um grande amigo de Orunmila e que muitas vezes o ajudara com dinheiro. Disse ainda que, por gratidão, Orunmila lhe teria deixado seus instrumentos de adivinhar.

A esposa de Orunmila pareceu compreende-lo, mas disse que a sacola havia desaparecido. E o homem foi embora frustrado.

Outro homem veio chorando, com artimanha pediu a mesma coisa e também foi embora desapontado. E assim, todos os que vieram fizeram o mesmo pedido. Até que Exu chegou.

Exu também lamentou profundamente a morte do suposto amigo. Mas disse que a tristeza maior seria da esposa, que não teria mais pra quem cozinhar. Ela concordou e perguntou se Orunmila não lhe devia nada. Exu disse que não. A esposa de Orunmila persistiu, perguntando se Exu não queria a parafernália de adivinhação.

Exu negou outra vez. Aí Orunmila entrou na sala, dizendo: "Exu, tu és sim meu verdadeiro amigo!".

Depois disso nunca teve amigos tão íntimos, tão íntimos como Exu e Orunmila.

14.
Esú e a chuva

Conta-se que Aluman estava desesperado com uma grande seca. Seus campos estavam secos e a chuva não caia.
As rãs choravam de tanta sede e os rios estavam cobertos de folhas mortas, caidas das árvores.

Nenhum òrìsà invocado escutou suas queixas e gemidos.

Aluman decidiu, então, oferecer a Èsù grandes pedaços de carne de bode. Èsù comeu com apetite desta excelente oferenda.
Só que Aluman havia temperado a carne com um molho muito apimentado.

Èsù teve sede. Uma sede tão grande que toda a água de todas as jarras que ele tinha em casa, e que tinham, em suas casas, os vizinhos, não foi suficiente para matar sua sede!

Èsù foi á torneira da chuva e abriu-a sem pena.

A chuva caiu. Ela caiu de dia, ela caiu de noite. Ela caiu no dia seguinte e no dia depois, sem parar.
Os campos de Aluman tornaram-se verdes.

Todos os vizinhos de Aluman cantaram sua glória:

"Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos dendezeiros, cujos cachos são abundantes;
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de milho, cujas espigas são pesadas!
Joro, jara, joro Aluman,
Dono dos campos de feijão, inhame e mandioca!
Joro, jara, joro Aluman!"

E as rãzinhas gargarejavam e coaxavam, e o rio corria velozmente para não transbordar!

Aluman, reconhecido, ofereceu a Èsù carne de bode com o tempero no ponto certo da pimenta.

Havia chovido bastante.

Mais, seria desastroso!

Pois, em todas as coisas, o demais é inimigo do bom.

15.
Exu, filho primogénito de Iemanjá com Orunmilá, o deus da adivinhação e irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi, era voraz e insaciável.

Conseguiu comer todos animais da aldeia em que vivia.

Depois disso, passou a comer as árvores, os pastos, tudo que via até chegar ao mar.

Orunmilá previu então que Exu não pararia e acabaria comendo os homens, e tudo que visse pela frente, chegando mesmo a comer o céu.

Ordenou então a Ogum que contivesse o irmão Exu a qualquer custo.

Para conseguir isto, Ogum foi obrigado a matar Exu, a fim de preservar a terra criada e os seres humanos.

Mas mesmo depois da morte de Exu, a natureza, os pastos, as árvores, os rios, tudo permaneceu ressecado e sem vida, doente, morrendo.

Um babalaô (representante de Orunmilá na terra) alertou Orunmilá de que o espírito de Exu sentia fome e desejava ser saciado, ameaçando provocar a discórdia entre os povos como vingança pelo que Orunmilá e Ogum haviam feito.

Orunmilá determinou então que em toda e qualquer oferenda que fosse feita pelos homens a um orixá, houvesse uma parte em homenagem a Exu, e que esta parte seria anterior a qualquer outra, para que se mantivesse sempre satisfeito e assim possibilitasse a concórdia.



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